22 outubro 2025

IN MEMORIAM

Ainda é necessário lavar teus pés com minhas lágrimas?

Ainda desejas reverências e imperas com medo?

O terror que senti já se esvaiu,

E minhas forças se foram junto dele.

 

Eu vi um céu brilhar e tilintar,

Estrelas caírem e queimarem as esperanças que plantei.

Todo sacrifício era pouco,

Toda modéstia era falsa.

 

Envenenei as águas e o vinho e os bebi,

Comi a massa feita pelo diabo,

E corri descalça por agulhas.

 

O fantasma ainda me acompanha,

Já não me assusta, é só uma sombra.

Mais uma sombra.

Mais um gole, um trago e uma linha reta.

 

Será que os anjos cantam?

Ou ouço as minhas próprias vozes bendizendo o vazio?

Ao deitar, vi fogos coloridos e fui tomada por êxtase.

 

Adeus.


Amanhã,

tu,

me banharás de lágrimas.


Eu,

estarei em casa...


Finalmente.


T.Alves



29 setembro 2025

25

Criatura pérfida e cruel.

Eu vejo sua alma e sua sujeira .

Suas mentiras e sua falsidade.

Duas caras, dissimulada, cobra.

Eu enxergo sua podridão.


Bela encantadora, musa da doçura,

És alento às dores.

És a cura das feridas de minh’alma.

Não vejo meu caminho sem tua luz.


Entregou-me ao carrasco do inferno, soberba és.

Deu-me aos lobos.

Deixou-me apodrecer, do âmago à tez.

A doença que corrói meu ser, é de teu veneno.

Maldita, miserável.


És tu anjo ou deusa, para me elevar aos céus?

Tens meu coração, meu fiel amor.

Todas as canções que ouço, me lembram de ti.

Em todas as cores, encontro em teu olhar.

Toda felicidade é contigo.


Vadia, consorte, víbora, amada!

Bruxa desprezível, Dama encantadora!


…Mulher…


T.Alves




16 setembro 2025

24

Quebrada.

Vozes anunciam e clamam,

Enquanto, entorpecida, rejeito minhas asas.

Invejo a liberdade dos pássaros e seu curto prazo,

Ora ávidos, dançam aos ventos,

Ora descuidados, são devorados por outrem.


Sou bailarina.

Rodopio.

Ora em chamas, ora em lagos congelados.

Vislumbro sombras e lucidez,

Negocio com desconhecidos da plateia,

E desvaneço ao alcançar a perfeição.

A contraponto, holofotes me alcançam nas quedas e erros.

A coreografia contemporânea da vida, torta e mal feita,

Retira burburinhos e gracejos de espectadores sedentos.

Cubro o palco de sangue e lágrimas, então, aplausos.


Bem vindos ao espetáculo!


Bis! Bis! Bis!


Dê mais corda, gire, e toque novamente,

A caixinha está desgastando, mas este é seu brinquedo favorito!

Reabram as cortinas, estendam a lona!

Encharque o palco!

Todos aclamam sua queda.


T. Alves



08 agosto 2025

Pater, ubi es?

 Vistes meu nascer,


Estavas lá nos primeiros passos e tombos,

Estavas lá nas primeiras risadas e lágrimas.

Aonde fostes?


Me renegas


O que te fiz? Por que me fez?


Sua sombra paira sobre minhas lembranças

E mesmo tão tenro, já aprendi a dor da perda.

Preferia eu, ter perdido um joguete,

Ao contrário, perdi parte do que eu nem havia aprendido ainda.


Sabia que ainda espero que adentres pelas portas?

Que me chame e me confirme seu amor?

Era mentira tudo que me dissestes?

É culpa minha tua debilidade?

Se é, perdoa-me, ainda não sei o que faço.

Ainda estou jovem para caminhar só.

Ainda tenho medo do escuro.

Ainda não entendo a vida,

Ainda sonho.


Perdoa-me por ainda sentir que falta algo.

Quiçá, já em madura idade, não questione mais.




T. Alves



25 junho 2025

Sakura

 

Lembras de ti?

Aos findos dias do inverno, enxia-se de botões em cores carmins.

Os transeuntes vislumbravam e ansiavam pelo espetáculo que viria.

O frio cortante, não lhe abalava e seguias firme, frondosa, esbelta.

 

O estilhaçar dos brincos gélidos ao fim da estação,

Era o soar da beleza vindoura, presenteando deusa menina.

Desabrochavas, uma a uma, cada botão era em si, único.

Em buquê tornava-se, espetacular e delicada.

 

Invejosos infortúnios derrubaram-te.

Ao chão, suas pétalas vibrantes secaram e esqueceu-se de como eras.

Como pode a vida, de tal maneira, destruir tua formosura?

Esquecestes de presentear a ti mesma.

Ora! Maior deleite é aquele onde nos embebedamos de nós mesmos.

Em carne viva despia-se de máscaras e mentiras

Sob o sol, vibrava e enflorava, trazendo para fora sua natureza!

 

Divina deusa da roda da vida,

Abençoa, pois esta criança, que desvanece e despreza teu cerne.

A relembre da pureza de suas cores e da delicadeza com que encantava toda gente.

Que ouças, meu pedido e dos demais que por este ser intercedem.

 

Sakura,

Que encontres a cerejeira adormecida em ti,

E como ela, floresça, renove-se, mostre-se.

Após teu longo inverno, que ponhas afora sua graça

E encante a ti mesma uma vez mais.

T. Alves




09 junho 2025

Aihpos

 Talvez...?


Não!


Me enganei,

em verdade,

me vi como Ícaro, e despenquei dos céus.


Ainda me pergunto por que me importo?

É só mais uma perda.


Enxergo mil coisas e ainda assim não sei descrevê-las.

Aonde devo ir?


Perdão, nobre senhora,

talvez tenha sido eu,

demasiado vão.

Acreditei na doçura do saber que de fato, é,

tão doce quanto é fel.


Seria eu, adúltera,

merecedora das pedras ou és tu,

implacável algoz?


Nada se conecta, não é?


O mundo gira, os dias passam,

e ainda me embriago com palavras abstratas e dançantes.


Perdão!


Me silenciarei,

antes que insulte (vossa) Sophia.


T. Alves




17 maio 2025

Ókèèrè

 Ainda verto, veneno e lágrimas

ambos meus, ambos me enlouquecem.

Enquanto as risadas me embalam, louca,

agonizo esperanças perante a noite escura.

Os pedidos às estrelas são esperanças mortas num coração tolo,

ainda assim, conto cada uma delas

quem sabe, elas me ouvem

ou a Lua se apiede e venha dançar.

Os ventos cantam,

a fogueira trepida e narra histórias,

a noite caminha e clareia.

Ao amanhecer, esqueço das lamúrias e finjo alegrias.

Meus ossos doem, meu sangue ferve,

a luz me lembra do que se oculta.

Será que o sol curaria minhas chagas?

As brasas, ao se apagarem, me retornam a mim,

sempre vivo e sempre no fim.

O senhor do sopro, sempre me lembra de caminhar,

às vezes, não creio ser possível,

e na maioria, acompanho fagulhas e rego sementes.

A vida, que não me pertence, é bela e irregular.

Então, bebo mais um gole,

observo nuvens e me banho em chuvas.

Sabe, ainda rezo.

Me lembrei das palavras de uma flor, hoje adormecida,

que a vida escorre pelas mãos como areia.

Não pode ser presa, não pode ser igual,

cada grão, remonta o todo.

Ainda penso, ainda sinto, ainda espero.

Enquanto o orvalho serenado me acalenta.

T. Alves





25 abril 2025

23

Eu perdi outro nascer do sol.

Eu perdi outro banho de chuva.

Eu perdi o sorriso infantil.

Eu perdi o medo do escuro.

 

Abracei meus demônios.

Engoli meus anjos.

Desenterrei meus pecados.

Enterrei meus sonhos.

 

Eu corri quando deveria andar.

Eu parei quando deveria voar.

Me ajoelhei quando deveria estar de pé

Eu perdi o que nem havia ganhado.

 

Eu aprendi ou insisto no ciclo?

 

Eu ouvi vozes mudas.

Eu vi o invisível.

Eu lembrei do que não era meu.

 

Não desejo flores em meu funeral,

Ou velas me guiando a um caminho além.

Antes da pá de cal, me levantarei

Antes de sucumbir aos vermes, de novo, tentarei

Antes de voltar, irei.

 

Antes de fechar os olhos, os abrirei.

T. Alves



09 abril 2025

22

 

Não deveria, mas ainda importo-me.

Ou seria mera curiosidade?

Como me pintas hoje?

Quais aquarelas usa ao descrever-me?

Talvez, com os olhos de rapina,

Ou quem sabe, os fechastes demasiado.

Como poderias ver vendado e encoberto pelas lamúrias e dores?

Pelas verdades que ouviras tu, de outras bocas,

Ou a tua mesma tem dito aquilo que queres acreditar?

Pois, não saberia eu dizer-te, não enxergo ou penso como ontem.

Tenho me sentado à mesa com o Tempo,

Aguardando que sua medicina ponha efeito às feridas.

A vida me contou uma vez, que se diverte com os humanos

Mesmo tendo-a em mãos, como um jarro cheio de água fresca, escolhemos turvá-la ou derramá-la.

Pergunto-me, todos os dias, o que tenho feito de meu jarro?

Perguntastes a ti, o que tem feito do teu?


T.Alves



20 março 2025

Ator

 

Eu vi mil faces do abismo

Mil vezes escondi-me de mim

Mil faces me olharam de volta,

E outras mil vezes as vi.

 

Sonhos e pesadelos? Homônimos

Raízes secas entrelaçadas em minha mente

A cada poça de suor, uma nova história.

Será possível adormecer em paz?

Quantas vezes ainda contarei os tic-tacs do relógio?

 

Na madrugada, mil vozes me atormentam,

Mil olhos me julgam,

Mil vezes me destruo.

 

Qual a culpa do inocente?

Nascido vivo, morto ao crescer.

 

O que plantar em solos áridos?

Como regar a dor sem mágoa?

Pra onde ir, se não há estrada?

 

Eu assisti à borboleta alçar voo

Indo para longe, desenhando seu caminho

E senti inveja da sua liberdade.

T.Alves