sábado, 17 de dezembro de 2022

9

 

Tenho tentado ser outra.

Despi, troquei-me, ardi.

Fingi beleza na dor,

Calma no desespero,

Lucidez à cegueira.

Surda, caminhei.

Emudeci aos gritos.

Cavei à fundo,

Até meus dedos sangrarem,

Ainda assim, não encontrei minha raiz pútrida.

Mesmo ao banhar-me, a mefítica permaneço.

Reconheço as sombras que me cegam,

Cópias minhas.

Amarrar-me-ei em poste e palha.

Acendas tu a lenha.

Queimar-ei sem voz de súplica.

Confesso a mim meus pecados

Engasgada com palavras de perdão,

Purificada em chamas, 

Renascida, Lume.


T. Alves




terça-feira, 15 de novembro de 2022

8


Eu vi tudo desmoronar

Busquei colar os cacos, mas é em vão

Não existem contos de fadas

Da minha janela só veio tragédias

Tão claro, tão limpo e ainda enxergo embaçado

Minha maior parte é pútrida, bolorenta

Anseio pelo silêncio, mas ouço gritos exasperados

Lanço espinhos e me corto em águas

Meu ego me devora

Caminho baldada, trôpega, vazia,

 amofinada.


T. Alves




segunda-feira, 24 de outubro de 2022

À Primavera

 

Ó Rainha! Perdoe-me pela morosidade!

Devido à agilidade do Tempo, atrasei-me em corteja-la.


Devo dizer-lhe:

Teu perfume me cerca, mesmo em longínquos ares.

Tua beleza me fascina em cada novo desabrochar.

E teu toque quente, é dádiva.


Deságua-te, ó Rainha, e purifica-me

Antes que o Tempo passe e teu reinado se finda.


Até lá, deleitar-me-ei dos teus dias,

Vibrar-me-ei a cada nova cor,

As quais pintas os céus e a terra. 

E ao final, esperar-te-ei, 

Até que renasças e me preenchas uma vez mais.


T.Alves




terça-feira, 13 de setembro de 2022

7


Como flores murchas, 

Disse… 


Que essência teriam as lágrimas? 

Murmurou.


O cheiro acre, a palidez


Desconheço qual cor pintaria os dias

Rabisco frases sem sentido, desconexas

Minha cabeça está cheia, o peito vazio.


Afogada, sufocada, cansada.

Sons, palavras, dores, silêncio, vazio.


A menina no balanço, muda.


Sonhos turvos


E ainda assim me embriago de mim.


Silêncio, 


Por favor, 


Calem-se!


Estou enlouquecendo?



Estou enlouquecendo!



Quem sou eu amanhã?



Quem sou?



T. Alves



 

quinta-feira, 21 de julho de 2022

6


Durma maestro.

Se deleite em meus braços,

Faça do meu colo berço teu

Enquanto velo teu sono,

Suplico ao tempo que se demore aqui


Guardo cada linha tua em um quadro na memória

E quando te aninhas em mim, assim como menino

Regozijo me em ser musa tua


(Se é que ainda sou)


Todavia,

Durma maestro

Os sonhos são o descanso da alma.


T. Alves




sexta-feira, 10 de junho de 2022

5

 Cega, surda e muda.

Pesadelos e abismos

As palavras não chegam, ou chegam tortas.

Enquanto rabisco papéis em puro embargo

Vou perdendo outra parte

Que importância faria sem ver a luz?

Quando ouço-os, inaudível aflição.

Nem qualquer piedade tiveram os deuses

Apenas, recusaram o gozo

Fim à Nimpha.

T. Alves



terça-feira, 1 de março de 2022

Eu

 

A gota que escorre quente

Embriaga àquele que se deleita.


O vinho é servido aos que se dispõem a brindar...


Têm sido anos áridos, amado

Não faltou apetite ou fervor.

Algo mais, não sei dizer.


Busquei a fonte para mergulhar em mim,

Volver aos dias de outrora,

E supliquei à mãe o caminho.


Encontrei pegadas esquecidas...


Retornarei ao beber do mar do ego.


T. Alves





quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Outro Adeus


Foi pelo perfume das rosas 
Que sou de tua partida
Em um lindo dia de verão gasnhastes a liberdade
Que tanto almejavas tu
E sob a clara luz da lua
Após o pesar tempestuoso das nuvens
Digo-lhe adeus.
Daí comprimentos à Bela Dama
Ficarei bem
Nós vemos no fim.

T. Alves








sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

4


Um céu tempestuoso.

Uma chuva fria.

Em minha cabeça, vozes.

Uma sinfonia ressonante,

De fantasmas e demônios.


Música, 

Palavras, 

Gritos, 

Chuva, 

Sinos, 

Trovões

...


Desconheço o silêncio, mesmo quando me rodeias.


T.Alves




terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Desejo e amor

Beije meus lábios amor meu

Beba do mel, entorpeça-te

Beije fugaz e ferozmente

Os lábios que te pertencem

Desde que a clara lua nós abençoou

E os deuses nós olharam com curiosidade

Ama-me como um beija flor, que suga o néctar das flores

Ou como a borboleta que docemente toca suas pétalas.


Amor meu, ama-me com amor.

Me ame com fulgor, usa do teu desejo. Das fantasias mais loucas ao desejo mais banal.

Confunda em mim a realidade com o irreal, sonhe comigo em tempo real.

Vivamos o sonho fictício ou literal.

Que os deuses nos olhem, que aprendam conosco, que possamos ferver as forjas de Hefesto e que ele forje, sobre nossos corpos nus e entrelaçados.

Que o nosso fogo nos baste sem nos queimar 


A ti dedicarei meus deleites

Minhas loucuras serão nossos passos sãos

Ao invejar os Céus, com tamanha luz, somos o espetáculo em meio às estrelas.


T.Alves, Will Jr.





sábado, 15 de janeiro de 2022

Carne e gozo

 A brisa do mar me trouxe um cheiro

Era dos perfumes que exalam tua pele escura

Dos sons que amo, teu arfar me estremesse o âmago.

E da luz dos teus olhos, cor de cacau

Via o entrelaçar dos céus e estrelas.

Inveja-nos a lua, o mar

Que não conseguem se tocar e amam a distância.

Invejam-nos as flores, 

Pois nosso néctar é mais doce que seu perfume

Arrisco dizer, amado,

Que amam-nos os deuses

Ao deleite de seus olhos, vêem o amor carnal de belo ângulo,

Como plateia, aplaudem o espetáculo de nossos corpos.


T. Alves