quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Ijó

Danças entre ruínas enquanto padeces.

Em tempestades, louvas às torrentes 

Percorres descalça estradas afiadas,

E como delirante bailarina, cais.


As vozes cantam,

Não são as mesmas que gemem?

Onde estarias tu, ao estar defronte à lucidez?

Onde estás tu, que findou à noite?


Ainda bailas inocente, entre cacos e rachaduras

Ignoras a dor, atuas pela falsa benção. 

E ao fim da melodia, ainda saltas, ainda cantas

A fim de que se esvaia tua agonia,

por entre lágrimas e piruetas.


T.Alves




sábado, 4 de novembro de 2023

Èmi ni

Eu sou a filha da deusa

Me encontro ao desabrochar das rosas e da vida

Sou doce como a brisa, e tempestuosa como a chuva

Podes ter meu calor afável, te acolho em meu ventre

Selvagem, me misturo ao tempo

Meu pai, bruto como rocha, e protetor

Sou filha dos deuses, abençoada criança

Eu ouço suas vozes, eu sinto sua presença

Eu sou a cria da mãe, a que corre pelas matas e ama 

A que chora e luta

A que foge e queima

Eu renasço em mim, de mim, para mim

Eu sou a filha da luz e da escuridão

Eu sou parte do pai

Eu sou a mãe.

T. Alves




terça-feira, 10 de outubro de 2023

14

 

Era apenas uma criança,

Quando precisou calçar seus sapatos de adulto e correr


Acreditava ter desabrochado, ledo engano,

Ainda não havia crescido.


Era apenas uma criança,

Quando assistiu a escuridão encobrir seus dias

Mal via as estrelas e esperava enxergá-las de novo.


Ainda era uma criança,

Quando se perdeu nos dias.

Estes, quando enevoados, assistia à luzes turvas,

Não sabia dizer se eram lâmpadas ou ilusões.


Ainda sendo criança, foi vexada.

Comprimiu sua dor em uma caixa, guardou-a na superfície,

fechou-se no fundo de um poço e cavou.


Já não era mais criança, e estava sozinha.

Caminhe, criança, caminhe, pensava consigo.

Ainda veremos um belo dia.


T. Alves




quinta-feira, 7 de setembro de 2023

12

Me afogo em desejo, 

Queimo feito brasa até ser pó.

Me junto à terra de meus pés, 

sou oferenda que retorna à casa.

À Mãe me junto, aos irmãos me reúno.

Minhas cinzas, alimentarão os semelhantes e cobrirão os inválidos. 

Minhas canções mortas ecoarão aos ouvidos surdos, em bocas mudas. 

 Então, a vencer do Tempo, retorno ao ciclo.

Sou céu e ar, chuva e pranto.

Renasço em tempestade, povoo o ser.

Caminho trôpega, em meio ao mundo, ao reabrir os olhos.


T. Alves




domingo, 13 de agosto de 2023

13

 A dama que me acompanha é leal e cruel.

Sua pele dourada reluz, seus cabelos como fogo me seduzem

Acordo sempre em seus braços, me alimento de seus seios fartos 

Ao ponto de afogar-me ao mergulhar em ti.

Fujo inconsequente, ao passo, que retorno débil.

A dama que me se acompanha e gélida e abrasadora.

Nos fundimos, enlaçadas e fervorosas. 

Viver e morrer contigo são sinônimos.


T.Alves



domingo, 16 de julho de 2023

11

 
São notas,
Canções claras de tons suaves
Pinceladas em tela, coloridas, puras.
Outrora, me ouvi balbuciando palavras.
A melodia remonta quadros em branco,
Quebra cabeças idênticas.

Parece tolice, mas ouço
E vejo linhas entrelaçadas
Poemas jogados ao vento
E folhas perambulando ares.

Eu li,
Linhas e marcas, nós e costumes.
Rezei por sanidade e me joguei em desalento.
Enfim, acordo.
E ainda recito tolices.

T. Alves




sábado, 17 de junho de 2023

PRETOS


Vejo meu povo através de lentes tortas

as lágrimas vermelhas pintam o quadro

borram as vistas e tingem as palavras.


A história canta agonizante.


Atrás de um novo mundo, forçaram almas

Liberdade é um sonho tão belo quanto o amanhecer,

mas as horas e o tempo nos acorrentam

perdemos, até ganhar a morte.

Eu sei, hoje os navios ainda navegam!

Veja, ainda estou de pé atravessando os caminhos

tenho saudades de casa, do abraço, do colo da mãe.


Ainda os carrego comigo

posso senti-los em meus ossos,

ainda gritam por suas asas.

E através de mim, podem ver as estrelas.


"I go to prepare a place for you."


T. Alves



quarta-feira, 24 de maio de 2023

10


Eu me odeio

Por cada lágrima que sorvi em mim,

em ti.

Por cada palavra afiada como lâmina,

Por cada grito abafado.


Nas tempestades e enxurradas que desaguam

Me afogo, me alimento, atuo.

Perdoe-me, eu não sei o que faço.


T. Alves

terça-feira, 4 de abril de 2023

Zinco


 Pois veja, Maestro, até onde viemos!

O quanto andamos, não é?

Ora unidos, ora sós.

Muitas vezes perdidos - em nós.


Nós dados, (por vezes, nós cegos) 

Prendendo-nos, um ao outro,

Até cortamos os laços, e darmo-nos as mãos.


Com a benção dos reis fomos coroados.

O frio e o calor nos temperou à forja.

Vimos noites escuras e tempestuosas,

Passamos dias abafados e mudos. 

Com a escuridão das vistas e a surdez nas palavras,

Contemplamos o sopro fresco oloroso,

Banhamos-nos às lágrimas da rainha,

Fitamos o bailar das folhas ao vento,

Desejamos a luxuria do tempo.


Ah, Maestro! 

Se pequei ao amar-te que se dane a pena. 

Sou a musa de várias faces, mas apenas um coração. 

És teu para que guardes, 

És teu para que comas.

Toques para mim, bailarei para ti.


T. Alves.



domingo, 22 de janeiro de 2023

À Violeta


Não chores pequena dama, 

Sim, sua doce violeta foi florescer em outro jardim,

Mas enquanto esteve aqui, foi a alegria dos días.

Então, regue seu túmulo com a tempestade de seus olhos;

Ao final, acenda o fogo e celebre a passagem.

A saudade será sua lembrança e companhia

Novas vidas virão... 

E irão....

Haverão Invernos e Verões, Primaveras e Outonos...

Deixe-a ir e guarde o amor que floresceu em ti.

A violeta estará no jardim com as outras flores que te aguardam.


T. Alves




sábado, 7 de janeiro de 2023

Carta ao Bardo

 

Diga-me Bardo,

Que contos permeiam sua mente?

Assisto a ti, tragando.

Absorto em outros mundos.


Diga-me Bardo,

Que ode estás à compor?

Divagas em meio ao Tempo, fitando o vazio.


A tua mudez me cala.

Teu olhar me enfeitiça. 

Tua lira me encanta. 


Queimo, por vezes em euforia, 

Por outras em agonia.

Mas em todas as vezes, 

Aliciada estou à incógnita que és a cada amanhecer...



T. Alves