sábado, 17 de dezembro de 2022

9

 

Tenho tentado ser outra.

Despi, troquei-me, ardi.

Fingi beleza na dor,

Calma no desespero,

Lucidez à cegueira.

Surda, caminhei.

Emudeci aos gritos.

Cavei à fundo,

Até meus dedos sangrarem,

Ainda assim, não encontrei minha raiz pútrida.

Mesmo ao banhar-me, a mefítica permaneço.

Reconheço as sombras que me cegam,

Cópias minhas.

Amarrar-me-ei em poste e palha.

Acendas tu a lenha.

Queimar-ei sem voz de súplica.

Confesso a mim meus pecados

Engasgada com palavras de perdão,

Purificada em chamas, 

Renascida, Lume.


T. Alves