sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

À sós



Eu me desfiz em pedaços,
Debaixo de cada lágrima, 
Um traço de consciência
E após a torrente, um deserto seco
Sorrisos falsos, abraços frios


O tempo traga um cigarro fedido
Em cada trago, um intervalo
Não enlouqueci, apenas contei doces mentiras
Esqueci de mim mesma, me tornei parte delas
A elas dediquei tragos
E a cada trago, mais tempo

Tempo, tempo, tempo
Me perdi na fumaça seca,
Me esqueci da essência
E desejei as lágrimas. 

Como juntar os pedaços?
Como colar cacos?
Como me refazer por inteira?

T.Alves



quarta-feira, 24 de junho de 2020

À mim, hoje



O que eu fiz? 
Aonde eu fui? 
Quais mentiras eu contei? 
Quais verdades inventei?

Quando meu sangue jorrou, quem 
estava lá pra me ver cair?
A rainha caída cercada de nada.
Eu corri, voltei pra casa, me perdi e caí novamente.

Perdoe-me se não me vês como antes, mas como reconstruir o que foi quebrado?

Não consigo me achar. 
Aonde eu fui? 
Você me seguiu?
 Você me viu? 
Aonde me deixei?

Comecei de novo, apesar de cada dor e cicatriz. 

Aonde fica o fim de tudo? 
Aonde encontro descanso?

Presa num mundo escuro dentro de mim mesma.

T. Alves

domingo, 5 de janeiro de 2020

Sobre a Vida


Sobre a vida: a primeira coisa que me ocorre é que ela muda.
A inequívoca certeza da mudança, o tempo que se finda se renova no início de algo que os otimistas insistem em dizer ser um presente.

Sobre a vida, não a nada que se possa dizer; nada que muitos já não tenham dito, seja ele, filosofo, ou poeta, seja ele um sábio acadêmico, ou um vivente embebido de certezas sentado em uma mesa em algum bar.

Sobre a vida ressalto a certeza de que ela não é justa.
De fato, não é. Se quer o sol brilha para todos; quantos em suas salas empoeiradas atarefados com as certezas dos outros não gostariam de ter a liberdade de descansar ao sol?
Enquanto alguns se deleitam dele, com plena certeza de que outros se matam para lhe proporcionar aquele momento único.

Sobre a vida, eu posso dizer que vivi.
Posso dizer que a vida é curta para aqueles que olham para trás, mas que é longa e lenta para lapidar a rocha, longa e paciente o bastante para moldar a montanha, nós que somos perenes de mais para passar pelo mundo como um sopro e inconsequentes o bastante para não nos deixar moldar.

Sobre a vida... oque poderia eu dizer sobre a vida?
Oque poderia dizer sobre os que vivem?
A vida é como uma estrela cadente, só se pode contemplar quando se finda. A obra só se faz completa, em seu todo; então como pode, eu, pobre e louco dizer sobre a vida?
Sobre a vida; obra inacabada minha.
Vivida e lapidada sobre duros golpes, reluzida sem brilho próprio, não sei dizer se há brilho em viver, não sei dizer se todos os que brilham, outros são capazes de ver.
Não sei dizer aonde há mérito. Aos olhos da serpente o rato é um alimento, como tal agraciado por Deus. Aos olhos do rato a serpente é um monstro abominável, teria Deus partido sobre o rato ou a serpente?

Sobre a vida; à pequenas certezas, ela mais complexa que seus olhos podem ver.
Não vemos o mundo como ele é, vemos somente o que somos capazes de ver, então como podemos julgar?
Sobre a vida à certeza de que a morte igualara a todos os que vivem, seja ele um igual, ou completa a diferença. Pobre o que vive com medo do fim, mas pobre de verdade é aquele que fora condenado a viver para todo o sempre.

Sobre a vida; concluo dizendo que ela tem um fim, não há nada que não se finde.
Posso dizer que ela é um ciclo e que a primavera como o poeta diz ainda será amanhã mesmo que eu aqui não esteja para ver.
Posso dizer que a vida está dentro daqueles que estão vivos, mas sem dúvida nem todos vivem, estrelas que brilham e se apagam no céu sem ter a oportunidade de ter aqueles que a contemplem.
Termino após tanto dizer com a certeza da ignorância. Apesar de ter a compreensão das minhas palavras e do fim pragmático, digo com esperança. Olho o horizonte com menos peso, mais leveza em minhas certezas e em minhas ações. Afinal tudo se finda; sendo assim não a mau eterno. Nada é eterno, nem a certeza da eternidade.

A vida é assim.

Sobre a vida: Nada tenho a dizer.


Will Junior