25 abril 2025

23

Eu perdi outro nascer do sol.

Eu perdi outro banho de chuva.

Eu perdi o sorriso infantil.

Eu perdi o medo do escuro.

 

Abracei meus demônios.

Engoli meus anjos.

Desenterrei meus pecados.

Enterrei meus sonhos.

 

Eu corri quando deveria andar.

Eu parei quando deveria voar.

Me ajoelhei quando deveria estar de pé

Eu perdi o que nem havia ganhado.

 

Eu aprendi ou insisto no ciclo?

 

Eu ouvi vozes mudas.

Eu vi o invisível.

Eu lembrei do que não era meu.

 

Não desejo flores em meu funeral,

Ou velas me guiando a um caminho além.

Antes da pá de cal, me levantarei

Antes de sucumbir aos vermes, de novo, tentarei

Antes de voltar, irei.

 

Antes de fechar os olhos, os abrirei.

T. Alves



09 abril 2025

22

 

Não deveria, mas ainda importo-me.

Ou seria mera curiosidade?

Como me pintas hoje?

Quais aquarelas usa ao descrever-me?

Talvez, com os olhos de rapina,

Ou quem sabe, os fechastes demasiado.

Como poderias ver vendado e encoberto pelas lamúrias e dores?

Pelas verdades que ouviras tu, de outras bocas,

Ou a tua mesma tem dito aquilo que queres acreditar?

Pois, não saberia eu dizer-te, não enxergo ou penso como ontem.

Tenho me sentado à mesa com o Tempo,

Aguardando que sua medicina ponha efeito às feridas.

A vida me contou uma vez, que se diverte com os humanos

Mesmo tendo-a em mãos, como um jarro cheio de água fresca, escolhemos turvá-la ou derramá-la.

Pergunto-me, todos os dias, o que tenho feito de meu jarro?

Perguntastes a ti, o que tem feito do teu?


T.Alves