17 maio 2025

Ókèèrè

 Ainda verto, veneno e lágrimas

ambos meus, ambos me enlouquecem.

Enquanto as risadas me embalam, louca,

agonizo esperanças perante a noite escura.

Os pedidos às estrelas são esperanças mortas num coração tolo,

ainda assim, conto cada uma delas

quem sabe, elas me ouvem

ou a Lua se apiede e venha dançar.

Os ventos cantam,

a fogueira trepida e narra histórias,

a noite caminha e clareia.

Ao amanhecer, esqueço das lamúrias e finjo alegrias.

Meus ossos doem, meu sangue ferve,

a luz me lembra do que se oculta.

Será que o sol curaria minhas chagas?

As brasas, ao se apagarem, me retornam a mim,

sempre vivo e sempre no fim.

O senhor do sopro, sempre me lembra de caminhar,

às vezes, não creio ser possível,

e na maioria, acompanho fagulhas e rego sementes.

A vida, que não me pertence, é bela e irregular.

Então, bebo mais um gole,

observo nuvens e me banho em chuvas.

Sabe, ainda rezo.

Me lembrei das palavras de uma flor, hoje adormecida,

que a vida escorre pelas mãos como areia.

Não pode ser presa, não pode ser igual,

cada grão, remonta o todo.

Ainda penso, ainda sinto, ainda espero.

Enquanto o orvalho serenado me acalenta.

T. Alves