13 agosto 2023

13

 A dama que me acompanha é leal e cruel.

Sua pele dourada reluz, seus cabelos como fogo me seduzem

Acordo sempre em seus braços, me alimento de seus seios fartos 

Ao ponto de afogar-me ao mergulhar em ti.

Fujo inconsequente, ao passo, que retorno débil.

A dama que me se acompanha e gélida e abrasadora.

Nos fundimos, enlaçadas e fervorosas. 

Viver e morrer contigo são sinônimos.


T.Alves



16 julho 2023

11

 
São notas,
Canções claras de tons suaves
Pinceladas em tela, coloridas, puras.
Outrora, me ouvi balbuciando palavras.
A melodia remonta quadros em branco,
Quebra cabeças idênticas.

Parece tolice, mas ouço
E vejo linhas entrelaçadas
Poemas jogados ao vento
E folhas perambulando ares.

Eu li,
Linhas e marcas, nós e costumes.
Rezei por sanidade e me joguei em desalento.
Enfim, acordo.
E ainda recito tolices.

T. Alves




17 junho 2023

PRETOS


Vejo meu povo através de lentes tortas

as lágrimas vermelhas pintam o quadro

borram as vistas e tingem as palavras.


A história canta agonizante.


Atrás de um novo mundo, forçaram almas

Liberdade é um sonho tão belo quanto o amanhecer,

mas as horas e o tempo nos acorrentam

perdemos, até ganhar a morte.

Eu sei, hoje os navios ainda navegam!

Veja, ainda estou de pé atravessando os caminhos

tenho saudades de casa, do abraço, do colo da mãe.


Ainda os carrego comigo

posso senti-los em meus ossos,

ainda gritam por suas asas.

E através de mim, podem ver as estrelas.


"I go to prepare a place for you."


T. Alves



24 maio 2023

10


Eu me odeio

Por cada lágrima que sorvi em mim,

em ti.

Por cada palavra afiada como lâmina,

Por cada grito abafado.


Nas tempestades e enxurradas que desaguam

Me afogo, me alimento, atuo.

Perdoe-me, eu não sei o que faço.


T. Alves

04 abril 2023

Zinco


 Pois veja, Maestro, até onde viemos!

O quanto andamos, não é?

Ora unidos, ora sós.

Muitas vezes perdidos - em nós.


Nós dados, (por vezes, nós cegos) 

Prendendo-nos, um ao outro,

Até cortamos os laços, e darmo-nos as mãos.


Com a benção dos reis fomos coroados.

O frio e o calor nos temperou à forja.

Vimos noites escuras e tempestuosas,

Passamos dias abafados e mudos. 

Com a escuridão das vistas e a surdez nas palavras,

Contemplamos o sopro fresco oloroso,

Banhamos-nos às lágrimas da rainha,

Fitamos o bailar das folhas ao vento,

Desejamos a luxuria do tempo.


Ah, Maestro! 

Se pequei ao amar-te que se dane a pena. 

Sou a musa de várias faces, mas apenas um coração. 

És teu para que guardes, 

És teu para que comas.

Toques para mim, bailarei para ti.


T. Alves.



22 janeiro 2023

À Violeta


Não chores pequena dama, 

Sim, sua doce violeta foi florescer em outro jardim,

Mas enquanto esteve aqui, foi a alegria dos días.

Então, regue seu túmulo com a tempestade de seus olhos;

Ao final, acenda o fogo e celebre a passagem.

A saudade será sua lembrança e companhia

Novas vidas virão... 

E irão....

Haverão Invernos e Verões, Primaveras e Outonos...

Deixe-a ir e guarde o amor que floresceu em ti.

A violeta estará no jardim com as outras flores que te aguardam.


T. Alves




07 janeiro 2023

Carta ao Bardo

 

Diga-me Bardo,

Que contos permeiam sua mente?

Assisto a ti, tragando.

Absorto em outros mundos.


Diga-me Bardo,

Que ode estás à compor?

Divagas em meio ao Tempo, fitando o vazio.


A tua mudez me cala.

Teu olhar me enfeitiça. 

Tua lira me encanta. 


Queimo, por vezes em euforia, 

Por outras em agonia.

Mas em todas as vezes, 

Aliciada estou à incógnita que és a cada amanhecer...



T. Alves







17 dezembro 2022

9

 

Tenho tentado ser outra.

Despi, troquei-me, ardi.

Fingi beleza na dor,

Calma no desespero,

Lucidez à cegueira.

Surda, caminhei.

Emudeci aos gritos.

Cavei à fundo,

Até meus dedos sangrarem,

Ainda assim, não encontrei minha raiz pútrida.

Mesmo ao banhar-me, a mefítica permaneço.

Reconheço as sombras que me cegam,

Cópias minhas.

Amarrar-me-ei em poste e palha.

Acendas tu a lenha.

Queimar-ei sem voz de súplica.

Confesso a mim meus pecados

Engasgada com palavras de perdão,

Purificada em chamas, 

Renascida, Lume.


T. Alves




15 novembro 2022

8


Eu vi tudo desmoronar

Busquei colar os cacos, mas é em vão

Não existem contos de fadas

Da minha janela só veio tragédias

Tão claro, tão limpo e ainda enxergo embaçado

Minha maior parte é pútrida, bolorenta

Anseio pelo silêncio, mas ouço gritos exasperados

Lanço espinhos e me corto em águas

Meu ego me devora

Caminho baldada, trôpega, vazia,

 amofinada.


T. Alves




24 outubro 2022

À Primavera

 

Ó Rainha! Perdoe-me pela morosidade!

Devido à agilidade do Tempo, atrasei-me em corteja-la.


Devo dizer-lhe:

Teu perfume me cerca, mesmo em longínquos ares.

Tua beleza me fascina em cada novo desabrochar.

E teu toque quente, é dádiva.


Deságua-te, ó Rainha, e purifica-me

Antes que o Tempo passe e teu reinado se finda.


Até lá, deleitar-me-ei dos teus dias,

Vibrar-me-ei a cada nova cor,

As quais pintas os céus e a terra. 

E ao final, esperar-te-ei, 

Até que renasças e me preenchas uma vez mais.


T.Alves